domingo, 15 de fevereiro de 2015

Eu, a Gaivota e o Cãozinho!


























O dia amanheceu calmo, o frescor do mar invadia a pequena casa onde estava. Na cozinha, passei o café em uma xícara grande, peguei-a, ainda sentindo o aroma divino do café, saboreei lentamente... Fui até uma mesinha no centro da sala, onde estavam anotações (sem qualquer tipo de comunicação externa), olhei algumas... E deu uma vontade de... Deixa isso pra lá.

Fui até a varanda. Uma área externa grande de madeira, com uma pequena cerca também de madeira... Olhei para a vastidão do mar... Tudo estava calmo... Tudo sereno. O dia estava radiantemente lindo...

Terminei minha xicara, abri o pequeno portão que separava da areia da praia... Estava deserta (tinha sido escolhido pela minha mestra exatamente por isso).

Areias limpas... Grandes extensões até a agua... Lentamente fui respirando... Absorvendo o ar marítimo... As aguas estavam calmas, brilhantes, cintilantes... Apenas pequenas ondinhas chegavam até a praia (marolas, como os litorâneos chamam).

Estava sozinho. Mas não me sentia sozinho... Uma sensação de paz tomava conta de todo meu ser... Era minha primeira “folga” (minha mestra de Meditação Transcendental havia-me dito: Amanha estará contigo somente... Mas só pela manha).

Aproveitava aquele momento.. Um pouco ansioso pelo que viria depois. Era sempre uma surpresa. Ao menos para minha ignorância.

Minha mestra tinha, á época, 82 anos e uma agilidade fantástica. Quase circense. Mas... Bem... Deixa isso... Detalhes que não importam aqui.

Continuei caminhando sentindo a areia nos pés.... Olhando o mar calmíssimo como se convidasse:
“Senta aqui perto vamos conversar!”

Andei um pouco mais e simplesmente sentei próximo à areia molhada pelas ondas da noite anterior.

Acomodei-me nas areias brancas, coloquei os cotovelos sobre os joelhos e fiquei admirando aquela gigantesca maravilha.

Os raios do sol matinal dançavam sobre as águas do mar calmo, dando impressões de anjos cintilantes como se fizessem piruetas sobre a água.


Assim permaneci algum tempo (não marquei) Aliás, não poderia ter nada, a não ser lápis e papel (ordem da mestra). Comunicação exterior? Nem pensar.
Dizia-me ela:
Quer falar com alguém? Use seu espirito. Ele é mais rápido que a internet;
Demorei em entender a metáfora. Mais dez dias precisamente. Mas esta é outra história,
Assim olhado o mar, vi uma gaivota que planou e veio à cerca de 10 metros de onde estava e simplesmente ficou quieta.
Não liguei... Há cerca de 10 km da praia havia um porto, imaginei ser normal elas estarem ali.
Mas aquela gaivota foi diferente (lembrei-me de Fernão Capela, de Richard Bach), aos poucos, lentamente, pé por pé, veio se aproximando... Não me mexia.. Eu, apenas acompanhava com os olhos...
Chegou até cerca de um metro de onde estava sentado... E, simplesmente, acomodou-se... Fez toda uma cena... Atirou areias para trás... Aninhou-se, abriu as asas como se quisesse ficar toda na areia... E assim ficou... De asas abertas... Quieta.
Vez por outra virava sua cabeça para me olhar... Eu olhando sem me mexer.

Ficou por um bom tempo assim... Olhou-me para ver se não representava perigo mais de uma vez... E aos poucos foi fechando os olhos.... Vez por outra abria para ver se ainda estava tudo como “ela encontrou”... Tornava a fechar....
Passou-se um bom tempo... Fui vagarosamente, espichando as pernas... E tentando me apoiar nos cotovelos, sobre a areia para continuar a observá-la. Abriu os olhos. Não ligou e continuou. Também continuei olhando aquele belo exemplar da natureza....
Coloquei os braços cruzados atrás da cabeça, para ainda assim ter um ângulo para observá-la... Ela permaneceu...
Confesso: Adormeci.
Acordo com lambidas. Sim, literalmente lambidas de uma espécie de algodão grande com quatro patas, e uma senhora vindo aos berros gritando.
- Penny, volte aqui... Não incomode o senhor..., Pennnnnyyy..
Era um pequeno cãozinho que me lambia a face, afagando-me, sorri e ele ficou olhando para mim, bem próximo da minha face.
Chega ofegante a “dona” do algodãozinho e diz:
- Perdão senhor, é a primeira vez que Penny faz isso... Ela não é dada assim, rosna para todo mundo e foi a primeira pessoa que ela fez isso. O senhor me desculpe...

Apenas sorri e nada disse. Virei-me em direção aonde ia à senhora e Pennyjá com a coleira... Vez por outra Penny parava, virava a cabeça em minha direção lançava um olhar e um pequeno acuado.
Sentei-me novamente na areia e senti uma sensação completamente diferente...
Primeiro o mar calmo. Depois a companhia da gaivota... Depois um cãozinho peralta me afagando a face... Ninguém mais na praia... O que era tudo aquilo.
A pergunta interna saltou-me dos pensamentos:
- Isso significa que sou bom? Que estou em harmonia com a natureza como um todo?
- Não respondi... Nem a mim mesmo... Apenas sorri e falei sozinho. Sim para mim mesmo....

-Creio que sou bom.. E isso é bom.. Se, seres tão sublimes e divinos chegam tão próximos a mim com gestos de carinho... Não devo ter maldades..
Sou bom. E isso é bom.

Levantei-me com um pequeno sorriso interno de satisfação.. Retornei a casa, deveria estar próximo da chegada da mestra.

E... Senti-me bem... Senti-me humano... Senti-me parte do todo...
E isso era bom...



Entendimentos & Compreensões
Revelações de momentos vividos de uma Vida plena.
Homenagem e saudade de Pequena estrela
Minha mestra de Meditação Transcendental,
hoje estrela mesmo...
Em algum lugar do Litoral em 2009!



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