Por Andrea
Werner Bonoli
Pedro tem 2
aninhos e parece meio alheio a tudo. Não olha quando é chamado, não atende a
comandos verbais simples e, às vezes, parece nem se importar quando o pai chega
do trabalho. Passa horas deitado no chão observando as rodinhas de seu carrinho
vermelho. Pedro também não fala nada além de "mamã". Ao relatarem
esses fatos à pediatra, os pais ouviram que está tudo bem, que são ansiosos
demais e que isso é falta de estímulo porque a mãe, principalmente, trabalha
demais.
Rita foi
abandonada pelo marido, está desempregada e depende do auxílio financeiro do
governo. Seu filho Guilherme tem 4 anos e ainda não fala. Já faz mais de um ano
que ela pediu, no posto de saúde, para que ele passasse no neuro. Continua
esperando.
Rafael tem 3
anos e fala de forma diferente: repete, incansavelmente, vários bordões de
desenhos animados que assiste em seu tablet e sabe todos os números de 1 a 100,
em português e inglês. Mas parece incapaz de responder às perguntas simples de
sua mãe, como, por exemplo, o que ele fez na escola naquele dia. Quando está
nervoso, grita muito, se joga no chão e até bate a cabeça na parede. Sua mãe,
cansada de ser julgada pelos olhares alheios na rua, resolveu levá-lo a um
neuropediatra. O médico o olhou por 10 minutos e disse que ele não é autista
porque "faz contato visual" e "é afetuoso".
Gabriela é um
bebê de quase 2 anos. Sua mãe relatou, em um grupo materno no Facebook, que
ficou preocupada porque a filha parece "desaprender" as coisas. Parou
de dar tchauzinho, de bater palmas, não gosta dos brinquedos, mas pode passar
horas acendendo e apagando luzes ou abrindo e fechando portas de armários.
Também tem um apego estranho por objetos como caixas de fósforos e garrafas
pet. Ouviu da maioria das mães que não deve se preocupar, porque cada criança
tem seu tempo.
Bernardo tem 8
anos, é extremamente inocente e tem dificuldades para entender linguagem não
verbal e ironias. Com isso, virou alvo fácil do bullying na escola. Cansada de
ver o filho chorar dizendo que ninguém gosta dele, a mãe foi à escola. Ouviu da
diretora que crianças são assim mesmo e não há nada que possa ser feito.
Mariana já rodou
a cidade de norte a sul e não consegue encontrar uma escola para seu filho
Fernando, de 5 anos, que é autista. As vagas existem. Mas, quando ela menciona
o autismo do filho, elas somem misteriosamente.
Todas as
crianças acima são autistas. Algumas vão ter seu diagnóstico atrasado pelo
desconhecimento de pais, professores e profissionais da área da saúde. Serão
meses ou anos perdidos, um tempo precioso que poderia estar sendo revertido em
intervenção precoce.
Umas vão ficar
sem escola. Outras serão aceitas, mas ficarão "encostadas", sem
profissionais qualificados e capacitados para ajudá-las em seu jeito único de
aprender. Muitas vão sofrer bullying graças ao desconhecimento de professores e
alunos.
Ah, a
conscientização! Palavra bonita e importante que toma um sentido especial para
todos os autistas e seus familiares no dia 2 de abril. Este é o Dia Mundial da
Conscientização do Autismo, decretado pela ONU! Há vários anos, como parte da
celebração, muitos edifícios importantes do mundo - como o Empire State
Building e até o Cristo Redentor - ficam iluminados de azul.
Segundo a
estatística americana, 1 em cada 68 crianças tem autismo. Isso é muita coisa!
Como vamos diagnosticar essas crianças cedo o suficiente para quem tenham a
intervenção precoce, que é tão importante? Como vamos qualificar profissionais
da saúde e da educação? Como vamos alertar os pais para que fiquem atentos aos
sintomas? Como vamos acolher e cuidar dos autistas mais velhos, cujos pais já
estão idosos e não têm condições de olhar por eles?
Meu filho Theo
foi diagnosticado pouco antes de fazer 2 anos. Dois pediatras disseram que ele
não tinha autismo, mas estavam enganados. Ainda bem que não aceitamos as respostas
confortáveis, mas equivocadas!
Vivemos de perto
o drama de "em que escola meu filho vai estudar". Começamos as
terapias bem rápido e, hoje, não gosto nem de pensar como ele estaria se não
tivéssemos agido imediatamente. Theo vai fazer 8 anos em junho, não fala, mas
se comunica bem através de um sistema que usa figuras. Atualmente, moramos na
Suécia, onde ele conta com assistência boa e gratuita, além de uma escola que
está totalmente preparada para ensiná-lo. Ele está, inclusive, sendo
alfabetizado, aprendendo a contar, tudo da melhor forma e respeitando suas
particularidades.
É exatamente por
isso que precisamos da conscientização. Para que o Brasil possa, um dia, dar as
mesmas condições a seus autistas. Para que situações como as relatadas no
início deste texto sejam cada vez menos frequentes. Conscientização para gerar
ação, conhecimento, capacitação, menos preconceito.
Quer ajudar a
espalhar a conscientização do autismo? Então, no dia de hoje, vista uma peça de
roupa azul, poste uma foto das redes sociais e use a hashtag #azulpelosautistas
!
E fique atento
em casa: criança que, aos 2 anos, perde habilidades que já tinha, não usa a
fala para se comunicar, não aponta e não olha quando chamada pelo nome, precisa
ser avaliada por um neuropediatra ou psiquiatra infantil. Quanto mais cedo as
terapias começam, maiores as chances de que estas crianças possam ter uma vida
independente no futuro!
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