O italiano Sergio
Canavero diz que é possível cortar cabeças de maneira elegante. Desde 2013, o
cirurgião de Turim, e membro do Grupo de Neuromodulação Avançada de Turim,
advoga que é possível fazer um transplante de cabeça bem-sucedido. Em junho
deste ano, Canavero dará início a uma iniciativa internacional com o objetivo
de realizar a operação até 2017. Sua intenção é, através da cirurgia, aumentar
o tempo de vida de pessoas que sofram de doenças debilitantes severas, cujos
músculos e órgãos degeneraram ou sofram de câncer em estágio avançado.
Neste mês, o cientista publicou um compilado de técnicas que, segundo ele,
permitirão aos médicos transplantar uma cabeça para um novo corpo sadio. É
preciso resfriar corpo e cabeça para que suas células sobrevivam sem oxigênio
por mais tempo. É necessário, também, cortar as terminações que ligam a cabeça
à medula espinhal de maneira cuidadosa e limpa. Depois, para fundir as duas
extremidades, Canavero deve borrifar a região com uma substância chamada
polietilenoglicol. Ele vai estimular a gordura nas células a se misturar,
fundindo cabeça e espinha. Em estudos já realizados, o polietilenoglicol
estimulou o crescimento de células da medula espinhal em animais.
Para evitar que o
corpo se mova, o indivíduo que passar pelo transplante será mantido em coma por
duas ou três semanas. Durante o período, vai receber pequenas descargas
elétricas – alguns estudos indicam que esse tipo de estímulo ajuda a criar
novas conexões nervosas. Canavero disse à
revista New Scientist que, ao acordar, a pessoa operada será
capaz de sentir o próprio rosto e falar com a mesma voz de sempre. Com
fisioterapia, dentro de 1 ano ela poderá voltar a andar.
Até hoje, nenhum transplante de cabeça realizado deu certo. Eles foram operados
em animais como cachorros e macacos. Feita a operação, os indivíduos
sobreviveram por poucos dias. Em 1970, um transplante de cabeça em um macaco
terminou com a morte do animal depois de oito dias. Isso aconteceu por que o
sistema imunológico do corpo receptor rejeitou a cabeça nova e intrusa. A operação
foi realizada pelo Dr. Robert White, da Universidade Harvard. O macaco
transplantado respirava com a ajuda de aparelhos e não teve a medula
reconectada: não se movia do pescoço para baixo. Esteve consciente por apenas
algumas horas. Quem estava presente diz que, pelas suas expressões, o bicho
parecia confuso e cheio de dor.
Canavero acredita que a possibilidade de rejeição é contornável: hoje em dia, a
ciência já é capaz de evitar a rejeição no caso do transplante de grandes
porções de tecido, como pernas ou transplantes conjuntos de coração e pulmão.
Uma cabeça nova pode ser um desafio, mas há cientistas confiantes de que o
problema pode ser resolvido.
Outro desafio para Canavero será encontrar um país que autorize a realização de
uma operação como essa em humanos. “A grande questão aqui é de natureza ética”,
disse ele àNew Scientist. “Esse transplante deve ser feito? Há,
obviamente, muitas pessoas que irão discordar”.
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