Quem vê a brasiliense Alessandra Baldini
atuando como juíza federal aos 28 anos não consegue imaginar a trajetória da
magistrada: bacharel em direito, ela tem pós-graduação pelo Ministério Público
e foi aprovada em seis concursos nos últimos três anos. As conquistas
profissionais dela não se restringem, entretanto, ao mundo acadêmico. A jovem
ostenta o título de Miss DF 2011 e, durante um ano e meio, seguiu carreira
internacional de modelo na Ásia.
Ainda há preconceito de que uma modelo não é inteligente, mas eu sempre
fui boa aluna. As pessoas ficam surpresas ao saber que uma modelo-miss passou
em vários concursos e hoje é juíza federal. Na verdade isso deixa a vitória
ainda mais gratificante."
A paixão pelas passarelas começou na
adolescência e continuou no período da faculdade. Ela entrou para o curso aos
17 anos e, aos 18, decidiu trancá-lo para desfilar na China, Tailândia e
Filipinas. "Busquei conciliar as duas carreiras, mas sempre priorizando os
estudos. Embora tenha interrompido os estudos para 'modelar' na Ásia, sabia que
era temporário. Serviu de experiência de vida para amadurecer como
pessoa", conta.
De volta ao Brasil e depois de se formar,
Alessandra decidiu então fazer uma pós-graduação e começar a se preparar para
concursos públicos. Ela afirma que já quase não fazia mais campanhas, mas
acabou aceitando o convite da organização do Miss DF Universo para se inscrever
no concurso de 2011. A jovem decidiu interromper os estudos temporariamente
mais uma vez e se candidatou ao posto. Com 24 anos, foi eleita Miss Cruzeiro e então Miss DF 2011.
"Percebi que seria uma honra ter a
oportunidade de representar o Distrito Federal em um concurso de nível
nacional. Além disso, a interrupção temporária da pós-graduação não geraria
prejuízos à minha formação", explica. "O Miss Brasil 2011 foi
realizado em São Paulo. Foram 27 participantes. Eu e mais 26 meninas ficamos
duas semanas na capital paulista por conta do evento. Participávamos de eventos
culturais e turísticos, bem como ensaiávamos para o grande dia. Fiquei nas
semifinais."
Alessandra continuou com a rotina de miss,
acordando às 6h30 e fazendo musculação, tratamentos estéticos e dermatológicos,
aulas de etiqueta, teatro e maquiagem e frequentando eventos sociais até passar
a coroa em 2012. Depois, mudou radicalmente a rotina. Ela passou a estudar nove
horas por dia, inclusive aos fins de semana, para se dedicar às provas.
A jovem conta que no início não trabalhava.
"Advogava pouco, tinha uma parceria com um escritório em que eu fazia
algumas peças, mais pela prática mesmo. Os estudos eram diários, atividade
física moderada e lazer mínimo. Fiz vários cursos, desde os mais genéricos até
os mais específicos, e fazia várias provas de concursos diversos, bem como
realizava exercícios e simulados em casa. Tive o apoio dos meus pais, até que
eu fui aprovada e chamada no primeiro concurso e comecei a ter minha própria
renda. Aí comecei a conciliar trabalho e estudo."
saiba mais
Além da experiência na advocacia, Alessandra
atuou como especialista em regulação da Agência Nacional de Aviação Civil
(Anac) e analista do Supremo Tribunal Federal. Ela também foi aprovada como
analista do Superior Tribunal de Justiça, defensora pública e procuradora do
Banco Central. No dia 29 de janeiro, vencendo uma concorrência de 90 candidatos
por vaga, tomou posse como juíza do Tribunal Regional Federal.
Para alcançar o cargo, Alessandra passou por
várias etapas: prova objetiva, provas escritas, investigação da vida pregressa,
exame de sanidade física e mental, teste psicotécnico, prova oral e avaliação
de títulos acadêmicos. O certame aprovou 56 dos 5.209 inscritos – pouco mais de
1% dos candidatos.
Mundos diferentes
"É uma quebra de paradigma. É a transição de dois mundos completamente diferentes. Em 2012 eu ainda estava cumprindo as tarefas de miss e, em menos de três anos, estou no curso de formação de juiz federal. Embora o perfil das misses tenha se alterado, contando com meninas universitárias, ainda há o preconceito de que a miss apenas lê 'O Pequeno Príncipe'. [...] Tomar posse como juíza federal substituta do TRF é um símbolo de vitória", diz a jovem.
"É uma quebra de paradigma. É a transição de dois mundos completamente diferentes. Em 2012 eu ainda estava cumprindo as tarefas de miss e, em menos de três anos, estou no curso de formação de juiz federal. Embora o perfil das misses tenha se alterado, contando com meninas universitárias, ainda há o preconceito de que a miss apenas lê 'O Pequeno Príncipe'. [...] Tomar posse como juíza federal substituta do TRF é um símbolo de vitória", diz a jovem.
A magistrada conta que mesmo durante a
graduação a capacidade dela era posta em dúvida. "Na época da faculdade
houve preconceito. A maioria das pessoas não acreditava que eu pudesse ser uma
boa aluna, já que era modelo. Ainda há preconceito de que modelo não é
inteligente, mas eu sempre fui boa aluna. As pessoas ficam surpresas ao saber
que uma modelo-miss passou em vários concursos e hoje é juíza federal. Na
verdade isso deixa a vitória ainda mais gratificante. A quebra de paradigma
funcionou como um plus na vitória."
A juíza afirma que a experiência com o mundo
das misses poderá contribuir com eventuais problemas na nova etapa de vida.
"Aprendi a lidar com situações adversas – concorrência, fracasso etc –
desde nova, em razão da competitividade do meio da moda. Independentemente da
idade da modelo, os problemas advindos da carreira são de 'gente grande'. [...]
E, sim, a carreira de modelo e o miss me ensinaram a cuidar de mim mesma. Além
de reforçar a vaidade, também me ajudou a ser mais disciplinada e determinada.
Mantive dieta e academia, mesmo durante os estudos."
Futuro
Alessandra afirma que não pretende fazer mais concursos públicos agora. O desejo de se tornar juíza veio do contato com magistrados na faculdade, na pós-graduação e no trabalho. A ideia de ir além da aplicação da "letra fria da lei" encantou a jovem.
Alessandra afirma que não pretende fazer mais concursos públicos agora. O desejo de se tornar juíza veio do contato com magistrados na faculdade, na pós-graduação e no trabalho. A ideia de ir além da aplicação da "letra fria da lei" encantou a jovem.
"É um sonho realizado. Não preciso
fazer mais concurso nenhum, pois esse era exatamente o que eu queria: chegar ao
TRF e ser magistrada federal. Agora é iniciar a carreira com dedicação
total", diz a magistrada.
Segundo ela, o trabalho pode ser exercido em
qualquer lugar do país. "O ingresso na magistratura federal implica a
responsabilidade de concretizar o princípio fundamental do acesso amplo à
Justiça. Há a possibilidade de ser lotada em locais mais distantes. Se isso
ocorrer, será uma honra poder fazer parte desse processo de interiorização da
Justiça Federal, bem como me dará a oportunidade de conhecer a realidade e a
diversidade existentes em um país tão extenso e culturalmente rico como o
Brasil. Essa nova fase demandará não apenas o conhecimento jurídico adquirido
ao longo dos anos, mas também maturidade e sensibilidade para lidar com
conflitos concretos", diz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário