Por Paulo Nogueira
Você lê na mídia ocidental
que os terroristas islâmicos que massacraram a turma do Charlie Hebdo foram
“radicalizados” por este ou aquele clérigo muçulmano fanático.
Esta é a melhor maneira de não
enxergar o real problema.
Nada leva tanto
ao terror jovens muçulmanos ao redor do mundo quanto a política de destruição
contra o mundo árabe comandada pelos Estados Unidos e seguida cegamente pelos
seus aliados europeus, como Reino Unido, Alemanha e França.
Uma coisa e
apenas uma move os americanos e seguidores em sua predação: o petróleo.
Há, ou houve, o
argumento hipócrita de que o que se deseja é levar a “democracia” aos países
árabes.
Democracia uma
ova, para usar a expressão de Luciana Genro. O objetivo é o petróleo, o
petróleo e ainda o petróleo. A qualquer preço.
A pilhação
ocidental é antiga.
Estados Unidos e
Inglaterra se uniram, no começo da década de 1950, para derrubar um líder
iraniano, Mossadegh, que ousara desejar uma partilha mais justa do petróleo do
Irã.
Os historiadores
registraram a fala de um ministro inglês para justificar a sabotagem contra
Mossadegh: não seria possível proporcionar aos ingleses o mesmo nível de vida
com uma divisão diferente dos lucros derivados do petróleo iraniano.
Este foi o padrão
de conduta ocidental no Oriente Médio desde então.
Mais
recentemente, outra vez Estados Unidos e Inglaterra se aliaram numa operação
macabra: a Guerra do Iraque.
Sabe-se hoje que os argumentos
utilizados por Bush e Blair para justificar a guerra foram falsos. O Iraque não tinha
armas de destruição em massa, ao contrário do que afirmaram Bush e Blair, dois
verdadeiros criminosos de guerra.
O Iraque foi
simplesmente destruído: crianças, mulheres, velhos, nada e ninguém foi poupado.
As bombas
ocidentais não escolhem alvos.
É infalível: onde
os ocidentais se metem com seus propósitos “civilizatórios”, as coisas pioram
para os nativos.
A vida na Líbia
sob Gadaffi era muito melhor do que é hoje, e os iraquianos sob Saddam viviam
num paraíso comparado ao inferno que enfrentam hoje.
Imaginava-se que,
com Obama, as coisas melhorariam.
Nada. Obama
aumentou o uso de drones (aviões não tripulados, controlados à distância) para
bombardear países do Oriente Médio.
A justificativa
era matar extremistas, mas os drones têm ceifado rotineiramente milhares de
vidas inocentes.
Essa chacina
cotidiana não é notícia no Ocidente. É como se os mortos árabes não
importassem, gente de uma subespécie não comparável aos guardiões da
civilização ocidental.
Mas você pode
avaliar o ódio e a vontade de vingança que vão se acumulando nas pessoas que,
lá longe, testemunham as atrocidades.
É uma corrente de
raiva que acaba tocando também jovens muçulmanos que vivem em países
ocidentais.
É dentro desse
quadro explosivo que surgem tragédias como a do Charlie Hebdo ou, mais para
trás, da Maratona de Boston.
Ou, ainda mais
para trás, a do 11 de Setembro.
Enquanto o
Ocidente pilhar e destruir os países árabes, o terreno para a radicalização de
jovens muçulmanos estará sempre fértil.
Há uma fórmula
certeira para acabar com a fábrica de extremistas: os americanos e aliados
darem o fora dos países árabes.
Mas quem quer
falar disso?
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