sábado, 3 de janeiro de 2015

Entrevista com Dr. Augusto Cury sobre Estresse e Ansiedade no Ambiente Jurídico




De que forma o senhor acha que se forma o estresse e a ansiedade no meio jurídico?

A Ansiedade é um estado de tensão intrapsíquica e o Stress é um estado de tensão cerebral que produz sintomas psicossomáticos. Há uma ansiedade e stress saudáveis que estimulam a motivação, fomentam a criatividade, promovem a superação de conflitos. Mas há uma ansiedade e estresse doentios, que bloqueiam a racionalidade, contrai a capacidade de resposta inteligente, asfixia a tranquilidade e produz cefaleias, taquicardia, hipertensão arterial e outros sintomas. 
O ambiente jurídico é altamente estressante devido aos excessos que ele contém: excesso de trabalho intelectual, de informações, de compromissos, de pressões sociais, de conflitos. Esses excessos levam a um desgaste cerebral maior do que se imagina.

O senhor acredita que as sucessivas batalhas que os profissionais de direito têm de travar, bem como, o objetivo de seu trabalho, quase sempre o conflito, causa danos psíquicos a saúde destes profissionais?

Todo ambiente de trabalho que coloca o cérebro em estado de alerta contínuo pode conter níveis dramáticos de estresse que promove o adoecimento psíquico. No ambiente jurídico a falha tem grandes implicações, os prazos são estreitos, os conflitos podem ser angustiantes, as perdas materiais podem ser relevantes, os danos para um indivíduo e para coletividade podem dramáticos.
O Estado almeja que os magistrados e os promotores sejam agentes da justiça, mas ele mesmo comete injustiças com esses nobres profissionais. O Estado e a sociedade proclamam que a justiça é lenta, mas colocam uma sobrecarga sobre esses profissionais inumana e insuportável. É assombroso saber que há mais de cem milhões de processos para vinte mil juízes. Muitos magistrados e promotores, bem como advogados, devido aos elevados níveis de tensão a que são submetidos cronicamente estão enfartando, deprimindo-se, desenvolvendo doenças psicossomáticas, sendo vítimas da ansiedade, insônia, desprazer de viver. E quem se preocupa com a saúde deles? Eles devem ser vistos como seres humanos e não como supra-humanos.

Como aliviar a sobrecarga de tensão que os profissionais do direito se submetem?

Deveria haver treinamento para os profissionais do judiciário conhecerem minimamente o funcionamento da mente humana, as armadilhas da emoção, a teoria das janelas da memória, para promover o tanto quanto possível a resolução pacifica de conflitos. Claro, com exceção os crimes hediondos e outros. As partes têm de saber que são seres humanos em conflitos, passiveis de resolvê-los, e não inimigos a serem abatidos ou punidos.
Além disso, é urgente que o número de juízes e promotores aumente, quem sabe se dobre, que os salários deles se expandam, inclusive de toda a cadeia de profissionais do judiciário, que as câmaras de arbitragem ganhem musculatura e que a sociedade brasileira desenvolva a inteligência socioemocional para deixar de ser judicialista. 

As partes são as que mais sofrem nos processos, ora por tratar dos seus interesses, ora, por muitas vezes desconhecerem os trâmites da lei. De que forma o profissional do direito pode contribuir para diminuir o estresse e a ansiedade dessas pessoas?

Deveria haver educação jurídica nas escolas de ensino fundamental, médio e universitário. O direito não pode ser hermético. É preciso democratizar o acesso às informações sobre os deveres e direitos do cidadão. Aprender a linguagem básica do direito é tão fundamental como aprender a língua pátria, a matemática, a química ou a física. Deveriam conhecer as consequências dos seus atos.
Quanto aos trâmites, as partes deveriam ter, pelo menos em alguns casos, assistência psicológica. Há sofrimentos indecifráveis que ocorrem dentro dos fóruns. Há lágrimas que nunca tiveram coragem de ser encenadas no teatro do rosto. Dar suporte mínimo para aliviar o estresse e a ansiedade é vital para a construção do estado democrático de direito.

O que devem fazer os profissionais do direito para não deixar sua rotina profissional contaminar sua vida pessoal?

O ser humano é uma unidade existencial indivisível. Quem está estressado no trabalho, cedo ou tarde afetará seu romance, a relação com seus filhos e a relação consigo mesmo. Quem está frustrado em sua família, a não ser que aprenda a proteger sua emoção, afetará também seu desempenho profissional.
Para ter qualidade de vida os profissionais do direito tem de aprender a filtrar estímulos estressantes, gerenciar sua mente, trabalhar perdas e frustrações. E, além de outras técnicas, deveriam aprender a não ser um agiota da emoção, ou seja, doar-se e cobrar excessivamente dos outros e de si mesmos. Quem cobra demais de si aumenta os níveis de exigência para ser feliz, realizado, relaxado. Como digo no livro Felicidade Roubada, os maiores fantasmas que sabotam nossa qualidade de vida estão dentro de nós.

No seu livro ansiedade você fala da Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA). O que vem a ser?

Como autor de uma das poucas teorias mundiais sobre a última fronteira da ciência, o processo de construção de pensamentos, a formação da consciência e do Eu como autor da sua história, tive a felicidade de descobrir a SPA e a infelicidade de saber que grande parte da população é vítima dela, inclusive as crianças e adolescentes. Uma criança de sete anos de idade tem mais informações do que um imperador romano tinha. Esse excesso de dados, que vem inclusive dos smartphones, games e internet, produz uma construção de pensamentos nunca antes vista, que esgota o cérebro. Se isso ocorre com crianças, imagine com os profissionais de direito?
Pensar é bom, mas pensar demais e sem gerenciamento é uma bomba contra a qualidade de vida. Como disse em conferência no STF, nunca nas sociedades livres houve tantos escravos no único lugar que é inadmissível ser um prisioneiro, dentro de nós mesmos. Muitos profissionais do direito são ótimos para a sociedade e instituição, mas são carrascos de si mesmos.

Como a SPA afeta os profissionais de direito?

Em minhas conferências para o Ministério Público Federal, para magistrados estaduais e OAB regionais, sempre faço uma pesquisa sobre os níveis da Síndrome do Pensamento Acelerado. E fico pasmado. Eles acordam cansados, têm dores de cabeça, dores musculares, irritabilidade, baixo limiar para frustração, dificuldade de conviver com pessoas lentas, sofrimento por antecipação, transtorno do sono, déficit de memória ou esquecimento e outros.
Os profissionais do direito têm de aprender a ter um caso se amor com sua qualidade de vida. Se o Estado é injusto com eles, eles devem ser justos consigo. Não podem trair seus finais de semana, feriados, férias e o tempo com as pessoas que amam com mais trabalho. Precisam contemplar o belo, fazer das pequenas coisas um espetáculo aos olhos. Precisam, por exemplo, ter tempo e habilidade para se humanizar, falar das suas lágrimas para que seus filhos aprendam a chorar a deles, pois cedo ou tarde chorarão.
Precisam ainda conhecer as ferramentas para seu Eu ser gestor da sua mente, trabalhar os papéis da memória, proteger a emoção. Quem quiser conhecer essas ferramentas recomendo o programa Freemind, que é um dos poucos programas da atualidade para prevenção de transtornos psíquicos. Fiz o lançamento do programa mundialmente nos EUA, Dubai, Israel, Brasil, etc., e renunciei aos direitos desse programa para que ele seja acessível a todos os povos e culturas. Podem-se tirar milhares de cópias sem custos. Espero que esse programa seja vivenciado em grupos nos fóruns, universidades, empresas. É só acessar www.institutoaugustocury.com.br


Publicado no dia 01/09/2014 no portal Carta Forense (Endereço eletrônico da reportagem original: http://www.cartaforense.com.br )


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