Por Linhares Junior
Agora é oficial: estamos todos esperançosos
Quis o destino que o Maranhão, por séculos, fosse um estado de
coisas erradas. Não um membro da federação, não, não. A significância de
“estado” aqui é existencial, é essencial.
Quis o destino que, mesmo no fundo, sempre
encontrássemos espaço para afundar ainda mais. Rompendo todas as leis da física
e da natureza. Escavando incansavelmente um buraco que por vezes parecia ter
destino certo: o inferno.
Quis o destino que nossa terra rica e verde
simplesmente não fosse cultivada. Que fosse esquecida e tivesse apenas lampejos
de prudência. Algo que sempre foi o auge de nossa miséria. Nossa incólume e
inabalável capacidade de não sermos.
Quis o destino que nossas crianças não fossem
tratadas como os moradores do futuro. Que nossos idosos fossem apenas memórias
do fracasso no passado. Que nossos adultos nada mais que símbolos das ruínas do
presente.
Quis o destino que nossos grandes homens de
valor, nossos escritores, professores, arquitetos, jornalistas, advogados,
poetas e nossos exemplos fossem encobertos pela sombra de um bigode que
interrompeu nossa história para fazer seguir a sua e a dos seus.
E quis o destino nos dar mais uma chance em
2014. E todos reconhecemos isso.
Sim, amigos, agora é oficial: estamos todos
esperançosos.
Por mais que essa esperança derive de um
processo parco, de uma disputa mesquinha, o destino nos brindou com a doçura da
esperança.
Até os críticos, os antagonistas e os
adversários do resultado, mesmo que constrangidos, assumem que este estado de
coisas erradas pode melhorar. Enfim, existe a esperança de que pode vir um
horizonte.
E não ousem colocar em minha boca a palavra
mudança. Não, não e não. Estamos cansados de mudanças, estamos fartos do
simples mover da mobília. Nenhum movimento importa mais se ele não for para a
frente. Ao inferno com dias diferentes! Nós queremos dias melhores.
Quis o destino nos dar essa chance por meio da
ironia indecifrável: um juiz oriundo de família de políticos.
Mas, pouco importa o passado e muito menos
ainda o presente. Pelo menos até o último dia de 2014, devemos nutrir o máximo
desprezo pelo presente. O que os resta até lá é apenas a esperança.
Esperança de que um punho de ferro recaía sobre
a criminalidade que nos assalta, que nos mata e que incinera nossas crianças
dentro de ônibus.
Esperança de que as torneiras que irrigam os
bolsos da corrupção sejam fechadas e de que suas mudas sejam destruídas e seus
cultivadores defenestrados da sociedade.
Esperança de que nossas instituições deixem de
ser prostíbulos que servem para o gozo de poucos e se tornem os pilares que
devem sustentar oportunidades para todos.
Esperança de que um único homem possa dar fim a
este ciclo de miséria, a este museu de fracassos e a este deserto de boas expectativas.
Estamos todos esperançosos, Flávio Dino. E
quando falo de todos, falo de todos. Uns mais e outros menos. Uns querendo a
bonança apenas pra si e outros querendo-a para os maranhenses. Acredite, até os
seus críticos mais ácidos hoje esperam algo de você.
A partir de janeiro iremos saber se essa
esperança irá vingar. Por favor, não peça tempo. Não peça um ano ou dois. E não
caia na armadilha desonrada de que “não se pode mudar rapidamente o que foi
erguido em 40 anos”. Pode sim. Algumas canetadas no silencia de um gabinete são
suficientes para dar fim a pelo menos ¼ de toda esta porcaria que está aí.
Agora é oficial: estamos todos esperançosos.
“E se essa esperança for apenas um delírio,
Linhares?” Bem, só nos restará jogá-la na lata de lixo de nossa história como
recentemente o fizemos com o passado.
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