Escrito para o BabyCenter Brasil
Para mostrar que brincadeira é
mesmo coisa séria, foram perguntados aos pediatras do Conselho Médico do
BabyCenter o que pais e mães precisam saber sobre esta atividade.
Que brinquedos
você acha essencial uma criança de até 3 anos ter?
Paulo Sérgio
Ferreira: Bola,
brinquedos que promovem movimentos sem provocar risco de acidentes, brinquedos
de encaixar, de reconhecimento de símbolos, figuras, formas, até letras (sem a
pretensão de alfabetização precoce). Vale a pena também ter brinquedos que
imitem frutas e legumes, para incentivar a alimentação saudável na idade em que
as crianças começam a fugir dos vegetais. .
Fábio
Picchi: Coisas que ela possa manipular livremente: brinquedos de montar,
com várias cores e formas, que permitam sobreposição. Blocos de madeira são
baratos e incentivam a imaginação, desde que sejam feitos com material atóxico.
Brinquedos criados especialmente para esta idade costumam ser ótimos. Mas é
preciso saber que a atenção de uma criança pequana não dura mais de 10 minutos,
por melhor que seja o brinquedo.
Tem algum
brinquedo que você NÃO gosta ou recomenda?
Paulo Sérgio
Ferreira: Sim,
brinquedos que estimulem a violência como armas de brinquedo, joguinhos que
envolvam violência e os que apresentam riscos de acidentes.
Fábio Picchi: Revólveres.
O maior problema está mais para a frente, com jogos extremamente violentos
eletrônicos. Brinquedos que são só para a criança olhar também não funcionam
muito bem. Depois de um minuto de encantamento, ela vai querer pôr a mão e vai
quebrar. Adulto é que gosta desse tipo de brinquedo.
O que você acha
de crianças brincarem no computador, tablet ou telefone?
Paulo Sérgio
Ferreira: Alguns
programas são interessantes desde que usados com limitação de tempo. A partir
do momento em que esses aparelhos são oferecidos às crianças, muitas delas
ficam grudadas. Assim diminui o tempo que deveria ser destinado às outras
atividades saudáveis, como as brincadeiras que estimulam o desenvolvimento
motor. A excitação provocada pelos joguinhos pode afetar o sono. Os pais devem
ficar atentos, pois muitos se acomodam e as crianças ficam expostas aos
aparelhos por tempo demais.
Fábio
Picchi: Eu acho ótimo, principalmente o tablet, que é mais acessível para
criança pequena. A gente vê a facilidade que a criança tem com esse tipo de
equipamento. Se ela ficar uma hora por dia fazendo isso mas usar o resto do
tempo ao ar livre, não tem problema. Não dá para deixar a criança fora desse
mundo. Aquela criançada que ficava na TV a tarde inteira pelo menos está
interagindo com alguma coisa. Dê preferência a jogos que simulem a motricidade,
ou seja, promovam movimentos variados.
Que erros os
pais cometem quando se trata da questão da brincadeira?
Paulo Sérgio
Ferreira: Brincadeiras
que aumentam os riscos de acidentes e traumas, como jogar a criança para
cima, rodar pelos braços ou tracioná-los de maneira brusca, segurar a
criança pelos pés... Também as brincadeiras que estimulam a violência.
Fábio Picchi: Existem
pais e mães que têm muita dificuldade em brincar com a criança, porque não
gostam ou não sabem, ou porque não estão acostumados a conviver com crianças.
Se isso acontece, perde-se uma ligação que não pode ser recuperada depois. É
preciso observar como outras pessoas lidam com a criança na escola, por
exemplo, ou na pracinha, para se inspirar. Também vejo pais que tentam
controlar demais a brincadeira, ou que compram brinquedos para si, completamente
inadequados para a idade da criança.
Meu filho gosta
de brincar de boneca e vestir fantasia de menina. Tem problema?
Paulo Sérgio
Ferreira: Acredito que
não, pois a criança de até 3 anos ainda não tem a referência sobre se tal
brinquedo é de menino ou menina. Essa referência foi imposta ao longo dos anos
pela sociedade, e persiste até hoje, mas vem perdendo um pouco força nos
últimos anos.
Fábio
Picchi: Acontece, é absolutamente normal. Costuma ser uma fase
transitória. Quanto mais se proibir, mais a criança vai querer aquilo, que não
interfere em nada no desenvolvimento da sexualidade. Mas é válido proteger a
criança de gozações e do bullying. O ambiente escolar pode ser cruel. Os outros
é que estão errados, mas quem sofre é criança, portanto faz sentido que seja
protegida. Ou seja: é melhor não deixar o menino levar a boneca do "dia do
brinquedo" na escola.
Quando a criança
fica obcecada com só uma coisa (princesa, dinossauro...), devo incentivar?
Paulo Sérgio
Ferreira: É muito
comum a criança focar suas brincadeiras em um personagem, um animal ou um
brinquedo durante um período de tempo que varia de criança para criança. Não é
interessante bloquear aquele interesse único (que é transitório), para não
gerar a possibilidade de frustrações futuras.
Fábio
Picchi: Não há problema em incentivar, mas é preciso prestar atenção para
ver se a a fixação não fica meio doentia, impedindo que surjam outros
interesses. Existem formas de autismo, especialmente as mais leves, que têm
essa característica. Mas, além da fixação, o contato pessoal da criança com as
pessoas fica pobre, ela fica em seu próprio mundinho.
Existe um tempo
"ideal" de brincadeiras por dia?
Paulo Sérgio
Ferreira: O tempo
ideal varia de criança para criança e é determinado por elas. Uma coisa é
certa: quando a criança não quer dar continuidade a uma determinada
brincadeira, ela própria estabelece um ponto final.
Fábio
Picchi: Criança que não está dormindo ou comendo está brincando. Não
importa se a brincadeira é formal ou não. Mas é preciso dividir o tempo:
tablet, atividades ao ar livre... Mesmo vendo TV, a criança pode interagir,
dançar, e aí estará brincando. No carro, por exemplo, você pode criar
brincadeiras, como procurar carros de determinada cor ou modelo.
Você pode dar
ideias de brincadeiras para fazer com crianças pequenas?
Paulo Sérgio
Ferreira: Brincadeiras
de adivinhação, do aprendizado de formas, letras, símbolos, brincadeiras com
bola, de esconder e outras que estimulem a movimentação e o equilíbrio, como
dançar.
Fábio
Picchi: Sentar-se com a criança no chão e manipular brinquedos de montar
com ela. Brincar como se fosse criança. Dá para ver quais são as babás boas
quando elas chegam ao consultório: imediatamente sentam no chão, pegam brinquedos
e começam a brincar junto, mas sem direcionar muito. Já muitas outras se sentam
numa poltrona e ficam só olhando. Contar a história de um livro também é ótima
brincadeira.
Por que os
livros são tão importantes, mesmo que a criança não saiba ler?
Paulo Sérgio
Ferreira: Os livros
incentivam a curiosidade, o reconhecimento de formas, figuras, cores, e até
familiarização com as letras. Em tempos de "iTudo", os livros ainda
constituem um dos maiores incentivos ao aprendizado. As crianças que crescem
com livros em geral serão adultos adeptos da leitura.
Fábio Picchi: É
importante a criança aprender a manipular aquele objeto novo. Ela aprende que a
cada virada de página vem algo diferente, principalmente a partir dos 2 anos.
Descobre que mesmo livros sem ilustração são fonte de histórias que causarão
prazer e botarão fogo na imaginação. O livro será visto como um objeto
fascinante.
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