Por Edson Vidigal
Outro dia,
infelizmente, ouvi de um aluno, com profunda tristeza e indignação, que este
estava pagando por um produto: o conhecimento. Algo dito em alto e bom tom, com
absoluta convicção.
Fico muito
triste pela mentalidade que restou consagrada nos bancos acadêmicos de um tempo
onde se pensa que o conhecimento é um produto, e que este pode ser comprado.
Na verdade, há
muito, muito tempo atrás, em uma galáxia muito, muito distante, esta quase
poderia ter sido uma máxima sofista. Foram os sofistas gregos que advogaram ser
o conhecimento nada mais que a arte de convencer, a exemplo de Protágoras, que
dizia ser o homem a medida de todas as coisas. Eles foram os primeiros
professores profissionais da História ocidental, pois cobravam para ensinar tal
arte. Mas mesmo eles não vendiam conhecimento. (Platão em alguns de seus
diálogos iria além na polêmica aqui tratada, questionando: A verdade pode ser
ensinada?)
Por mais que não
concorde com tal visão sofística do conhecimento, acrescento que a sofística
daquele tempo era feita com argumentos válidos, frutos de profunda reflexão e
de árduo trabalho de pesquisa, de leitura, de pensamento, de discussões
dialéticas e de construção de conhecimento. De preparo e dedicação a uma causa
na qual acreditavam.
Muito pior que
aquela, a nova sofística é oca, vazia de tudo, alienada, desprovida de razão,
de estudo, de preparo. Desprovida de conteúdo e, principalmente, de valores.
Uma sofística
que acredita que tudo pode ser vendido, ou comprado.
Cabe ponderar
que o conhecimento não é algo independente do sujeito. Não se pode simplesmente
abrir uma embalagem bem transada de conhecimento e ingeri-lo aos goles. Ainda
não inventaram a pílula do conhecimento.
O conhecimento
não se vende, não se compra. Não é produto alienável.
É fruto de uma
relação entre um sujeito que quer conhecer e um objeto que pode (ou não) ser
conhecido.
Nenhum
professor, nem ninguém, consegue abrir a cabeça de um aluno e enfiar nela
conhecimento. Nenhuma faculdade consegue isso, e nenhuma faculdade pode vender
um produto chamado conhecimento.
As instituições
de ensino vendem, sim, um serviço. O serviço de propiciar aos alunos o contato
com o conhecimento produzido por outros. O serviço de tentar expô-los a métodos
que podem levar o próprio aluno a encontrar o seu conhecimento. Ou, como
entendo, que possa levá-lo a construir o seu conhecimento.
O processo de
construção de conhecimento é árduo, cansativo, difícil, lento e arriscado. E o
pior de tudo é que ninguém pode trilhar esse caminho pelo aluno. O máximo que
se pode fazer é pegá-lo pela mão e conduzi-lo por entre as veredas do
conhecimento, por caminhos que você já seguiu e que já conhece um pouco mais
que ele.
Poucos alunos
atualmente estão dispostos a seguir por este caminho na busca de construírem o
seu conhecimento. A grande maioria prefere acreditar que simplesmente se pode
pagar por um produto.
E isso tudo em
apenas 60 prestações.
A pior mentira é
aquela que contamos a nós mesmos…
Fonte:http://blog.jornalpequeno.com.br/edsontravassosvidigal/2015/08/07/diploma-em-60-prestacoes-2/