sábado, 7 de fevereiro de 2015

Perfeccionismo: qualidade ou defeito?

Da mesma maneira que as calças de uma criança ficam curtas na medida em que ela cresce – e, por isso, devem ser trocadas por novas com tamanho mais adequado – a estrutura organizacional de uma empresa que cresce nunca será a ideal e está sempre em processo de reinvenção para prosseguir em sua trajetória de crescimento.

Aos olhos dos burocratas, essas empresas que se reinventam para se manterem crescendo não parecem ser muito organizadas, já que quase sempre não seguem a formulazinha que eles aprenderam no MBA, e isso os deixa um pouco desconfortáveis e inseguros. Metidas a perfeitinhas mesmo são as empresas estagnadas, que não saem do lugar e, por décadas, seus processos são sempre os mesmos. Por isso, acaba dando tempo até de se ter os famigerados manuais de processos escritos guardados no armário de que muito os burocratas se orgulham. Uma linda e estagnada organização.

A organização produtiva é um meio e não o fim. Por isso, perfeccionismo é uma doença que limita o sucesso de seus portadores. Seja caprichoso, organizado e faça seu melhor. De preferência, melhor do que seus concorrentes. Mas não corra atrás do próprio rabo, porque perfeição simplesmente não existe. Simples assim. É muito melhor realizar “aproximadamente agora do que exatamente nunca” (Nizan Guanaes).

Para crescer, torna-se necessário mudar a todo instante e, principalmente, reinventar-se sempre, a fim de trocar as calças que insistem em ficarem curtas. Por outro lado, o perfeccionista coleciona projetos perfeitos e ideais que insistem em nunca sair da gaveta, porque são perfeitos demais para existirem. Logo, podemos concluir que lugar de perfeccionista não é no pódio, mas talvez num consultório psiquiátrico, para tratar de seu transtorno obsessivo e compulsivo.

Perfeccionistas não iniciam empresas numa garagem. Steve Jobs não era perfeccionista como muitos equivocadamente pensam. Ele, além de visionário, era extremamente caprichoso e lançou produtos bons e ruins. Ficam registrados em nossa memória somente os bons. Jobs era bastante caprichoso e sua prioridade sempre foi a construção de seu projeto. Em algumas biografias escritas sobre ele, os autores, por ignorância, confundem muito ser caprichoso com ser perfeccionista. Como é possível definir? A obra. O resultado. Tudo que ele realizou. A propósito, o primeiro iPhone era conceitualmente extraordinário, mas em termos de execução, cheio de falhas. Que bom que ele não ficou na gaveta por essa razão!

Portanto, pare de falar que você é perfeccionista, simplesmente porque você achou que essa palavra é bonitinha e lhe atribui alguma característica positiva em seu perfil ou currículo. Não, perfeccionismo é doença das graves. Talvez você nem tenha essa doença, sendo apenas uma pessoa caprichosa que quer fazer o melhor e emprega mal as palavras. E se você é portador dessa doença, busque tratamento, por amor a seus projetos, que clamam por saírem do papel.

Construa seu projeto, cresça, reinvente-se e, se necessário, administre o não ideal. A próxima versão terá sempre a chance de ser melhor do que a anterior e pior do que a próxima. Porém, nunca perfeita.


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