sábado, 25 de outubro de 2014

Pedofilia: No rastro da vítima e do abusador



O abuso sexual infantil é um delito que vem ocorrendo ao longo do tempo, em quase todas as culturas e alcança todas as classes socioeconômicas. Durante muito tempo os estudos focavam em investigar os danos causados às vítimas, o que consideramos óbvio e necessário, no entanto, privilegiar a vítima em detrimento do agressor não evita que novas vítimas surjam. Atualmente já se busca compreender causas e desenvolver intervenções para evitar reincidências, bem como a proliferação de tais práticas, através de estudos neurobiológicos e comportamentais dos agressores.

É relevante a compreensão de que a pedofilia é um transtorno psiquiátrico crônico, classificado no rol das parafilias, constituindo-se em preferência, desejo e fantasias sexuais envolvendo crianças. Devemos considerar que nem todo molestador de crianças é pedófilo e, da mesma forma, nem todo portador de pedofilia é molestador de crianças (Baltiere, 2012). Deste modo um indivíduo com diagnóstico de pedofilia pode manifestar fantasias sexuais intensas e recorrentes envolvendo crianças e púberes, mas jamais concretizar suas fantasias. No entanto, torna-se um indivíduo vulnerável na ausência de tratamento adequado, pois fatores psicossociais podem desencadear a expressão do desejo diante de condições co-mórbidas, tais como: doenças afetivas, estresse psicológico intenso e abuso de substâncias psicoativas. É um transtorno prevalente na população masculina, variando entre 3% e 5 % (DSM V).
CAUSAS
Entre as possíveis causas citadas na literatura encontramos experiências de negligência e violência intrafamiliar, experiência de abuso sexual na infância e recorrência de atividades sexualmente ofensivas. Quando o agressor é um membro da família aumenta o risco de desenvolver transtornos associados, sobretudo quando o emprego de violência física e a cronicidade das relações sexuais abusivas estão presentes. Contudo, embora experiências sexuais abusivas precoces estejam relacionadas ao surgimento da pedofilia, esta experiência por si só não é condição exclusiva para explicar a origem deste transtorno.

Alterações estruturais, bem como funcionais do cérebro também são observadas nas vítimas da agressão sexual na infância. Em função da violência a que são submetidas, crianças desenvolvem sintomas próprios de estresse pós-traumático, ou estresse agudo, liberando cortisol no cérebro em função de uma preparação na busca de sobreviver ao trauma.
PERFIL
O portador de pedofilia pode sofrer interferência na capacidade volitiva, uma maior dificuldade em controlar seus impulsos, desejos e comportamentos sexuais. Prejuízo cognitivo pode ser observado na capacidade de avaliar a culpa, no julgamento e cumprimento de regras sociais, bem como na habilidade de empatia. Geralmente possui quociente intelectual preservado, desse modo tem consciência das consequências negativas de suas ações trágicas. No entanto, incorre na ação e torna-se sujeito à reincidência em crimes sexuais em função da presença de um transtorno da preferência sexual, aliado ou não, à presença de transtorno da personalidade, de conduta ou de impulso.

DIAGNÓSTICOS
A pedofilia se configura a partir de critérios estabelecidos pela American Psychiatric Association (DSM V, 2014) e pela Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10 (1993), respectivamente. São eles:
 A) É importante que os sintomas ocorram por pelo menos seis meses, com a presença de fantasias sexuais excitantes, impulsos sexuais ou comportamentos intensos e recorrentes envolvendo atividade sexual com crianças ou crianças pré-púberes (13 anos ou menos); 
B) Indivíduo que pratica seus impulsos sexuais ou fantasias lhe causando sofrimento intenso ou dificuldades interpessoais; 
C) O indivíduo deve ter no mínimo 16 anos e sua vítima ser pelos menos cinco anos mais jovem que ele, para evitar o viés do momento de desenvolvimento e do despertar para a sexualidade, onde o adolescente oscila entre a curiosidade e interesse sexual adequado à idade.

CONSEQUÊNCIAS
Crianças abusadas sexualmente podem apresentar comportamento de retraimento, medo, agressividade e labilidade de humor. Estes sintomas podem se agravar evoluindo para um estado depressivo, transtorno de estresse pós-traumático, ansiedade generalizada, fobias, baixa autoestima e outros transtornos. Na vida adulta podem se tornar abusadoras e apresentar transtorno de personalidade, de conduta ou do impulso. A vulnerabilidade, a cronicidade do abuso, a idade da criança e o relacionamento entre vítima e agressor podem provocar sequelas irreversíveis e duradouros. 

TRATAMENTO 
O tratamento se dá a partir da garantia da segurança e do bem-estar da criança, mesmo que em muitos casos haja a necessidade de afastá-la da família ou do contato com o abusador parental. Entretanto, esta ação pode proporcionar o aumento da sensação de vulnerabilidade. Uma vez que aqueles que deveriam proteger e cuidar são os agressores, como confiar em pessoas estranhas e como se sentir segura em um ambiente completamente novo e diferente do que está habituada?

A pedofilia é um transtorno psiquiátrico de difícil diagnóstico e tratamento. O indivíduo acometido por esta patologia não procura ajuda profissional. Tem receio de se expor e não ser compreendido ou não se aperceber doente. A avaliação especializada, bem como um acompanhamento com avaliação continuada para prevenir o risco de reincidência, é imprescindível. Assim é possível garantir tratamento médico e psicológico por tempo indeterminado, variando de acordo com cada caso.

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